Ofensiva da Turquia contra curdos na Síria causa temor de retorno do Estado Islâmico

11.10.2019

RFI

A ofensiva da Turquia contra uma milícia curda no norte da Síria preocupa os europeus e é analisada pela imprensa francesa nesta sexta-feira

Fotomontagem RFI

Os franceses acompanham com profunda preocupação a ofensiva militar lançada na quarta-feira (9) pela Turquia contra a milícia curda YPG, braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), na região nordeste da Síria.

Os curdos derrotaram o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria com o apoio da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos (EUA) e países europeus. Cerca de 12 mil jihadistas, sendo 2 mil cidadãos europeus (britânicos, franceses, belgas), estão detidos nas prisões do Curdistão Ocidental, uma região autônoma “de fato” situada na porção norte-nordeste da Síria. Ante os bombardeios turcos, o maior temor da União Europeia é que haja uma fuga dos extremistas e a reorganização do grupo fundamentalista islâmico, derrotado há apenas seis meses.

Nesta sexta-feira (11), o jornal conservador Le Figaro publica um editorial crítico ao presidente dos EUA, Donald Trump. Ao retirar os soldados americanos da região e dar apoio implícito à ofensiva turca, Trump fez pouco caso dos 11.000 curdos mortos no combate aos jihadistas do EI. A proteção dos curdos tornou-se uma questão ética para os europeus.

O diário diz que o presidente turco, Recep Erdogan, tem em mãos uma arma de dissuasão de massa e 3,5 milhões de refugiados sírios que podem, a qualquer hora, ser enviados às portas da Europa. Erdogan, enfraquecido pela crise econômica em seu país, decidiu apostar no caos, enquanto o russo Vladimir Putin está na espreita para recuperar os curdos para seu aliado Bashar al-Assad.

Qual tratamento para Erdogan?

O diário católico La Croix considera que adotar sanções contra a Turquia e enviar sinais de isolamento do país são instrumentos legítimos para pressionar Erdogan a suspender a ofensiva contra os curdos. Mas é preciso tomar o cuidado de não cortar os laços com o governo turco, senão as consequências para a Europa seriam amargas, adverte o jornal. Deixar o assunto para ser resolvido entre a Rússia e a Turquia seria um erro, alerta La Croix.

A imprensa francesa trata Erdogan com desprezo. O jornal comunista L’Humanité evoca os “sonhos demoníacos do sultão de Ancara”, que tem como estratégia aparente ressuscitar o poderio do Império Otomano no século 21. Erdogan quer fazer da Turquia uma potência regional e instrumentaliza, sem o menor pudor, a massa de 3,5 milhões de refugiados sírios em seu território, condena L’Humanité.

Nas páginas do Les Echos, o fundador do Instituto Francês de Relações Internacionais, Thierry de Montbrial, observa que os conflitos se propagam nas fronteiras, nas instituições internacionais e talvez, em breve, nos mercados. O caos ambiente é uma ocasião para os Estados se emanciparem de antigas alianças e tentarem construir uma nova ordem mundial.

 

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